Vantagens e Benefícios

 

VANTAGENS DA ELABORAÇÃO DE BALANÇO SOCIAL

 

 

                                                                                           (1)

   Otávio Gomes Cabello (2)

Marcos Vinício Bilancieri

 

 

RESUMO: As informações e atos sociais, necessários para elaboração do Balanço Social, são de extrema importância para a classe empresarial no mundo, ou seja, por meio de atitudes socialmente responsáveis, as empresas conseguem adquirir um diferencial no mercado competitivo. Mas as empresas brasileiras: têm cultura de empresas cidadãs?; têm preparo para elaboração do Balanço Social?; possuem modelos próprios para elaboração?; sabem quem são os usuários do Balanço Social?; sabem como elaborar um Balanço Social?.

Alguns órgãos criaram modelos de Balanço Social para tentar fazer com que as empresas elaborassem o demonstrativo, todavia apenas uma pequena parcela elabora, isso é explicável, pois a maioria das empresas não tem informação da sua existência; não tem preparo para elaboração do demonstrativo; e, em alguns casos, não existe o interesse em elaborá-lo. No Brasil, entretanto, está começando a se fixar um pensamento na classe empresarial, de realização de atitudes sociais, visando benefícios a empresas, não apenas pelo aspecto de marketing, mas também pelo aspecto humano.  

 

 

PALAVRAS-CHAVE: RESPONSABILIDADE SOCIAL, BENEFÍCIOS E OPORTUNIDADES.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Diante do cenário de desigualdade social, que o mundo atual vive, as empresas vêem oportunidades, pregando como slogans uma aparente empresa responsável ou cidadã, quer dizer, com responsabilidade social e com postura ética, visando aumento de lucro, estabilidade e desenvolvimento. Perottoni (2002) aponta que, no Brasil, há uma idéia começando a ser fixada no meio empresarial:

[...] otimizar os lucros não pode permanecer como um objetivo único das atividades da empresa. Ela tem, também, objetivos sociais geradores de bem-estar social por meio de apoio ao desenvolvimento da preservação do meio ambiente; investimentos no bem-estar dos seus empregados e dependente e num ambiente de trabalho agradável; comunicação transparente; retorno aos acionistas e satisfação dos clientes e fornecedores. (Perottoni:2002,p.52)

 

Campanhas sociais, projetos sociais, preservação do meio-ambiente e contribuições a instituições são uns dos artifícios que as empresas utilizam para demonstrar participação social. Essas campanhas, ao serem divulgadas nos meios de comunicação, são captadas pela sociedade, que passa a adquirir produtos desse fornecedor, devido à responsabilidade social demonstrada e cumprimento do papel de cidadão, contribuindo para a continuação dessa iniciativa empresarial. Ashley (2002) apresenta seu ponto de vista acerca da importância de postura ética, diante do consumismo:

O mundo empresarial vê, na responsabilidade social, uma nova estratégia para aumentar seu lucro e potencializar seu desenvolvimento. Essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e por conseqüente procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade, valorizando aspectos éticos ligados à cidadania. (Ashley:2002,p.3)

Nessa atitude empresarial, de demonstração do papel de empresa responsável, está o Balanço Social, destacado por Kroetz (2000):

O Balanço Social representa a demonstração dos gastos e das influências (favoráveis e desfavoráveis) recebidas e transmitidas pelas entidades, na promoção humana, social e ecológica, e os efeitos dessa interação são dirigidos aos gestores, aos empregados e à comunidade, no espaço temporal passado/presente/futuro. (Kroetz:2000,p.136)

A elaboração do Balanço Social não deve ser apenas usada como objeto de marketing, mas utilizada também como instrumento de gestão para tomada de decisão. 

Analisando os propósitos do Balanço Social, na Europa, nos Estados Unidos da América e lentamente, no Brasil, há de se destacar a tamanha utilidade que esse instrumento de gestão proporciona, além da importância de demonstrá-lo à sociedade no formato de costumes e rotinas legais e culturais brasileiras.

Mediante esse cenário empresarial, tão atual, este projeto se propõe a discutir questões pertinentes à sociedade e à área contábil, tais como, (a) as empresas estão preocupadas em demonstrar responsabilidade social, elaborando o Balanço Social? ; (b) as empresas brasileiras têm cultura de empresas cidadãs? ; (c) os Balanços Sociais existentes são consistentes? ; (d) quais são os modelos propostos?; (e) quais as informações essenciais para um Balanço Social?; (f) apenas empresas de grande porte têm capacidade para elaboração de Balanço Social?; enfim (g) os Balanços publicados, apresentam disclosure (transparência)?  

MATERIAL E MÉTODOS: A pesquisa foi realizada por meio de pesquisa bibliográfica e observação empírica, efetuadas, respectivamente, mediante consultas a obras completas, artigos, anais de congressos, via impressa e via eletrônica; e mediante análise de modelos de balanço social, propostos por Vasconcelos, Kroetz e pelo Ibase.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

 

Antes de tratar de responsabilidade social e elaboração do Balanço Social, é imprescindível destacar que as empresas brasileiras precisam “arrumar a casa” para, num passo seguinte, pensar em Balanço Social. A falta de planejamento, de bons serviços de assessoria empresarial, e de espírito empreendedor, deixa parte das empresas brasileiras sem condições de elaborar um Balanço Social.

Os doutores Marion e Müller (2002) tratam dessas indagações:

Quando pensamos que essa prática contábil é constituída de quase 55 mil escritórios de Contabilidade em todo o país, que prestam serviços a essa grande massa de usuários, e que tais serviços quase sempre têm muito pouco de contábil, mas muito mais de “despachante” (serviços burocráticos, guias, obrigações fiscais, etc.), temos o ímpeto de enfatizar os objetivos e a importância da Contabilidade para a nossa realidade, que parece ser mais prioritária do que ter o foco nos padrões globais de economia. (MARION;  MÜLLER, 2002, p.04).

Esses aspectos, no entanto, não isentam as pequenas e médias empresas de elaborar o Balanço Social. Tanto que, o Ibase possui um modelo para pequenas e médias empresas (anexo I) e, com isso, o pequeno e o médio empresário precisam ter espírito empreendedor, pois a publicação do Balanço Social é um diferencial no mercado competitivo atual, sendo uma ótima estratégia para demonstrar responsabilidade social. Tanto que, a publicação do Balanço Social adiciona um demonstrativo para gestão e, assim, pode atrair mais clientes; ganhar mais credibilidade no mercado e proporcionar melhor compreensão sobre a atuação social da entidade.

Perottoni (2002) remete-se às vantagens das empresas que demonstram suas ações sociais:

Para as empresas-cidadãs, assim reconhecidas, hoje são evidentes os benefícios resultantes de sua atuação, entre os quais citamos: a fidelidade dos clientes atuais e a conquista de novos; divulgação e reconhecimento positivo da imagem da empresa; reconhecimento de seus dirigentes como líderes empresariais e com grande senso de Responsabilidade Social; motivação, lealdade e confiança dos seus empregados; maiores possibilidades de parcerias com outras empresas e fornecedores, atuais ou novos; vantagens competitivas, como imagem e marca mais fortes e reconhecidas, produtos, também, mais reconhecidos e, em conseqüência, mais consumidos. (Perottoni:2002,p.53)

 

Em pesquisa realizada, sobre a responsabilidade social nas empresas, pela a Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB), entre 1715 pesquisadas, todas declararam incorporar a Responsabilidade Social à sua visão estratégica e 90% garantem que a alta administração participa ativamente nas definições e atividades.

Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), em 1998, 67% da região Sudeste promoveram atividades sociais voltadas à comunidade, sendo que 90% das empresas pesquisadas demonstraram que essas ações sociais decorreram da melhoria da imagem institucional. Premiações ligadas ao aspecto social cresceram nesses últimos anos: Selo Empresa Cidadã (Câmara Municipal de São Paulo), Top Social ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), Prêmio Eco (AMCHAM – Câmara Americana de Comércio), Selo Empresa Amiga da Criança (Fundação Abrinq), dentre outras. Essas atitudes constituem-se como prerrogativa para se afirmar que a mentalidade empresarial brasileira está mudando. Segundo Ashley (2002):

Ética e responsabilidade social nos negócios são temas ainda em desenvolvimento no Brasil. Não houve o registro de nenhum boom que merecesse menção honrosa nas diversas mídias existentes. Mas, sem dúvida, o cenário já se alterou bastante e tende a mudar gradativamente. (Ashley:2002, p.75)

Fatores sócio-culturais se refletem nas rotinas empresariais, principalmente, no que respeita à conduta ética e à conduta moral.

Tratando-se de Brasil: (a) é pública a corrupção na classe governista e a sociedade, por sua vez, com freqüência, a tudo assiste, com certo grau de conformismo, de acomodação; e (b) são injustificáveis, do ponto de vista ético e do ponto de vista moral, problemas ligados à conduta como, por exemplo, empresas que, diante da  alta carga tributária e da grande burocracia, conhecidas como “Custo Brasil”, passam a adotar medidas para contornar o pagamento de impostos e de outras obrigações acessórias.

Nessa perspectiva, surge a indagação, se a cultura pré-estabelecida, nas empresas brasileiras, não são promissoras, teriam, então, tino para elaboração de Balanço Social, a fim de buscar oportunidades em ações socialmente responsáveis?

De qualquer maneira, fica patente que, atualmente, as poucas empresas brasileiras não passaram a elaborar o Balanço Social nem por pressões legais nem por pressões sociais, mas como uma das estratégias de marketing. Não que essa atitude não seja utilizada também pelos países europeus e norte-americanos, mas evidencia que o Balanço Social foi difundido no Brasil não por questões culturais, mas por percepção estratégica de futuras oportunidades e ganho de espaço no mercado.            

Nessa vertente, Ashley (2002) considera que atitudes de responsabilidade social vão além da obtenção de lucro, posto que a responsabilidade social deve ser uma pratica que revela o comprometimento da empresa com seu público e com a sociedade:

Trabalhar a dinâmica social não é o mesmo que definir qual é a melhor estratégia para aumentar as vendas em um espaço de seis meses. O raciocínio deve ser bem claro no sentido de que a responsabilidade social é uma pratica que atesta o comprometimento da empresa com seu público e com a sociedade, ultrapassando a idéia de que ela só deve existir em função de seu caráter econômico. (Ashley: 2002, p.74)

Desse modo, fica claro que as empresas brasileiras não têm cultura para responsabilidade social. Todavia, com um grande acúmulo de empresas multinacionais que se instalaram no Brasil e com o crescimento do espírito empreendedor, algumas empresas estão passando a elaborar o demonstrativo. Claro está que esse início de mudança de atitude aponta para um enriquecimento tanto cultural, quanto social e empresarial, tento em vista que ações desse tipo podem alterar culturalmente a sociedade do país.

   Durante todo esse percurso, foram efetuadas diversas considerações sobre a importância da elaboração do Balanço Social, mas a quem é destinado esse demonstrativo?

Nesse sentido, o Balanço Social possui usuários específicos. Segundo Tinoco, o Balanço Social dirige-se a muitos usuários, todavia se destacam alguns, tais como:

(a) grupos, cujos membros, os trabalhadores, de uma forma pessoal e direta, trabalham para a empresa; (b) grupos que se relacionam com a empresa, clientes, e de sua confiança vive a empresa; (c) acionistas que aportam recursos a empresas; (d) sindicato dos trabalhadores; (e) instituições financeiras, fornecedores e credores; (f) autoridades fiscais, monetárias e trabalhistas, o Estado; (g) comunidade local; e (h) pesquisadores, professores, os formadores de opinião.

   O Modelo elaborado pelo Ibase, em 1997, com a colaboração da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o mais utilizado no Brasil, em função do reconhecimento da entidade no âmbito social e pelo interesse das empresas em obterem o “Selo Balanço Social Ibase/Betinho”, que comprova o aspecto qualitativo das informações relatadas no Balanço Social, devido às exigências impostas pela entidade para recebimento do selo. 

Vasconcelos propôs um modelo que, de acordo com a autora, se assemelha à abordagem norte-americana, em virtude da sua múltipla ênfase, tais como: qualidade de produtos, contribuições para o bem-estar da coletividade, bem como aspectos ambientais e culturais.

Kroetz propõe um modelo, que, segundo ele, tem premissas básicas como: (a) representar as demandas, isto é, os interesses dos usuários; (b) demonstrar as influências, favoráveis e desfavoráveis, recebidas e transmitidas pelas entidades, na concepção sistêmica que une a entidade e a sociedade, e (c) basear-se no espaço temporal passado / presente / futuro.        Segundo o autor, o modelo proposto abaixo poderá ser modificado de acordo com a realidade da empresa.

 

 

CONCLUSÃO

 

A elaboração do Balanço Social é vantajosa para qualquer organização: micro, pequena, média ou grande. O crescimento de empresas, visando ações sociais, nos seus planejamentos e estratégias, demonstra que uma cultura está emergindo, seja ela nascida da visão de lucros ou da percepção da necessidade de atitudes socialmente responsáveis.

Além do que, essas atitudes de empresas cidadãs impulsionam a necessidade de demonstrar essas ações por meio de propagandas, de circulares internos ou do Balanço Social.

Há um grande esforço de entidades, como o Ibase e o Sebrae, na divulgacão das vantagens do demonstrativo. Para isso, incentivam sua elaboração, elaboram e distribuem modelos, lançam campanhas e possibilitam meios para as empresas demonstrarem que se utilizam do Balanço Social.

As entidades da classe contábil vêem demonstrando apoio à implantação da responsabilidade social nas empresas, tanto que, não só as empresas da área contábil como os profissionais da classe, estão em estreita ligação com as empresas. Podem ser citados alguns exemplos desse apoio: a 18ª Convenção dos Contabilistas do Estado de São Paulo, organizado pelo Conselho Regional de Contabilidade, realizada no mês de setembro de 2003, cujo tema foi: “Brasil 2003: Contabilidade e Compromisso Social”; e o 17o Congresso Brasileiro de Contabilidade, organizado pelo Conselho Federal de Contabilidade, a ser realizado no mês de outubro de 2004, desenvolverá o tema Contabilidade: Instrumento de Cidadania.

A pesquisa, ao pretender tratar da consistência do Balanço Social, verificou ser necessário avaliar dados nas próprias empresas, visto que a consistência está conectada a documentos e pareceres de auditoria. Sendo assim, esta etapa já fica proposta para a continuidade desta pesquisa.

Os modelos pesquisados deixaram evidente que, quando elaborado o Balanço Social, é indispensável primar pela transparência (disclosure). Isso porque, quando ocorre omissão de informações por parte da empresa, em decorrência de dados confidenciais, para evitar a força da concorrência, campos do modelo proposto pelo Ibase ficam sem preenchimento e, com isso, o selo oferecido pelo órgão não é expedido.

O Balanço Social consiste, simultaneamente, num demonstrativo contábil, numa ferramenta para gestão, numa estratégia de marketing, numa prestação de contas, numa estratégia de promoção social.

No Brasil, as empresas estão começando a atentar para a eficácia da elaboração do Balanço Social e, com a prática dessa responsabilidade social, possivelmente, ocorra o boom tão esperado por todos que clamam por justiça social.